Giovanna Mayra de Oliveira
Quando falamos em autismo nível 1 ou TDAH, estamos falando de formas diferentes de perceber, reagir e lidar com o mundo.
E justamente por não atenderem às expectativas tradicionais — muitas vezes baseadas em estereótipos — essas diferenças acabam sendo ignoradas ou minimizadas.
São pessoas que lidam com sobrecarga sensorial, impulsividade, dificuldade de manter atenção, regulação emocional frágil — tudo isso enquanto tentam se adequar a um padrão de funcionamento que simplesmente não foi desenhado para elas.
Esses desafios nem sempre são identificados na infância, e na vida adulta, costumam se tornar ainda mais silenciosos — e mais cobrados.
No ambiente de trabalho, por exemplo, é comum que comportamentos associados ao TDAH ou ao TEA sejam lidos como desorganização, desinteresse ou rigidez.
Mas, na prática, há um esforço constante e invisível para se adaptar a contextos que raramente acolhem a diversidade neurológica de forma concreta.
Ignorar essas particularidades é fechar os olhos para um sofrimento legítimo.
Reconhecê-las é ampliar as possibilidades de atuação ética — seja na clínica, na educação, ou no ambiente corporativo.
Como psicóloga analista do comportamento, entendo que a intervenção mais potente é aquela que parte da função do comportamento, respeita o contexto e considera as variáveis que sustentam aquela forma de existir.
Esse olhar exige ciência, sim — mas também disponibilidade genuína para entender o outro como ele é, e não como gostaríamos que fosse.